sábado, 15 de maio de 2010

Monólogo

Quanto tempo se fazendo de forte, enquanto um pedaço seu é levado a cada dia?..., ele pensa.
Até quando a vida vai me obrigar a aprender lições e quando é que o labirinto vai mostrar sua saída - se é que fará por vontade própria?

Esse torpor, esse vazio, que cresce e escorre pelo chão, inundando poças de solidão; quando findará?

Quando os sorrisos serão verdadeiros? Quando os abraços serão calorosos?

É a vida, eu sei, é a vida que me cobra o que me foi concedido - que me persegue como uma presa suculenta. A vida, ela que dá, ela que tira. Que corre e puxa o tapete da sanidade dos meus pés.

É o destino, sim, talvez: o que não pode ser mais evitado, muito menos remediado pois nunca deu nem nunca dará resultados.

Conformação! Conformação! Conformação!...

E eu sei, eu o sinto todos os dias: Ele, Jano*, das escolhas. O Inicio. O Fim; me assombrando e lembrando-me das catástrofes, das atrocidades. Do sangue derramado. E, a cada uma de suas risadas de cinismo e crueldade das duas faces à mim, penso com afinco: "Sois eu o único culpado? Sois somente eu o estraga-prazeres? Sois eu o único culpado por o Sol não mais me aquecer, ou que a Lua não mais me encante e que o cento não mais acaricie meu rosto?". Então, em meu íntimo, sei que não. Sei que não sou um dos culpados estraga-prazeres, porém, não o único. Então, a presença se vai: Mas não perdura o silencio: Logo, os dois rostos do Deus voltam a me assombrar, e a vida volta para acertar as dividas, vindo e levando de mim o que me é mais caro.

Eu sou meu próprio inimigo. Deixo a dor entrar, deixo o vazio me completar. Abraço a solidão como uma velha amiga. Mas como, me digam, livrar-me de tudo isso, se tudo me procura, e a cada dia tenho mais certeza de que esse é o meu lugar? Digam-me, qual o mal em abraçar a solidão e a tristeza se me foram negados os abraços dos braços que sempre sonhei que me abraçariam? Se nem todos daqueles que se intitulam amigos teem braços estendidos a mim, que mal existe em aceitar os braços do vazio, os únicos que se compadecem de minha situação? Eu sou meu próprio inimigo!

Porque o único pecado mortal é amar como eu amei?
Porque razão aquilo que representa a felicidade do homem, também se transforma na fonte de sua desventura?**
Quando o sol voltará a esbanjar seu brilho?
Quando o vento tocará minha pele?
Quando a lua voltará a ser bela?
Quando o fluido de vazio e torpor estancará?
Por quanto tempo mais fingindo ser forte, enquanto um pedaço de mim é levado todos os dias?, ele pergunta.

[][13.05.10][18:39]



*Referente ao Deus Jano, da mitologia grega. Jano era o Deus das Escolhas e das portas dos destinos. Tinha um único corpo e duas faces na mesma cabeça de modo que ficavam nas laterais.
**Trecho de Os Sofrimentos do Jovem Werther, de J.W. Goethe.

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