"Assim você vai morrer só", reza o dito,
quase com certeza, como se da alma fosse a pena,
como se a morte, de fato, não fosse,
negando que só, assim, em português, é líquido,
vagando entre o ser e o estar,
sem se deixar de forma se aprisionar.
Só, por si só, não é essencialmente um nó.
De alegrias pode-se viver só.
Ou o que dizer dos que só de esperança
se movem e se transformam?
Combustível de felicidades
daqueles que só de amor vivem.
Só é uma totalidade, é abrangente.
É mais que a solidão aparente.
Separada por uma única letra, por pouco
não se transforma em sol - e o que é o ele
se mirado ao grande bailarino espacial?
Lá, onde só tudo que existe está.
E na extensa abrangência, só
então também recai tudo o que existe -
e as lágrimas que choram, e o suspiro que respira,
e o desespero sob a pele que rasteja
só, completamente só, à espera e à espreita
de compartilhar um pouco de sua certeza.
Também do só se alimenta o medo,
que se encerra em si mesmo
e que mais nada precisa buscar.
O que dizer dos que só de lamentos sobrevivem?
Ou que só de desejos se reprimem?
E de culpa, só, a se infectar?
Pouco necessária, a dúvida é pouco justa.
Mas, entre o ser e o estar
há condições que não posso transformar
em palavras ou versos ou frases
na busca implacável pela uniformidade.
Há uma urgência no sentir que me impede de medir
o meio cheio ou o meio vazio.
Minhas lágrimas estão há quilômetros dos meus sorrisos -
No caos, coexistem dentro de um nó
Parte de um todo completo, dividido e repartido,
junto e, ainda, irremediavelmente só.
[Fernando M. Minighiti][20.10.20][15h]