quinta-feira, 27 de maio de 2010

Antologia dramática*

*dramática de teatro mesmo


1. "-Tolo garoto
esse escravo dos sentimentos
amante das ilusões
amante do sofrimento!"

2. -Passado presente
que volta, que consome
que respira
e vive de mim
    -Passado que volta
Dor que se instala no peito
o que me falta discernir
para tu ir?

3. "-Pobre garoto
contenta-se
o passado, talvez
passará"

2. -Por quanto tempo não sou mais eu mesmo?
Por quanto tempo respirarei pelos aparelhos?
Se meu coração foi tão devastador e portador de um amor bélico
que o arsenal então exploda e me devaste!


[Fernando M. Minighiti][27.05.2010][18:35]

Tentativa

Palavras não-ditas
sorrisos partidos
seu coração já quebrado
de novo iludido
Mas, se ficar
eu não quero tentar
apenas me diga se morreu
para renascer?

De novo tentar
Então, fracassar
O teu inimigo
tu vais encontrar
e quando a hora chegar
de novo o sangue escorrerá:
Belo coração
-Iludido, quebrado, partido

E não olhe pra trás
Não ficou nada lá
tudo o que tu tens
acabou de levar
aquelas palavras, sorrisos, os abraços partidos
danças que jamais irão terminar
pois ninguém as deixou começar.

Enxugue as lágrimas
-minha alegria
Não faça mais cena
-não adianta mais a atuação extrema
E, agora que nada restou
me diga se valeu a pena
e se enfim
sua saudade matou?

Agora é pra sempre?
Pra sempre? Nunca mais?
-O pensamento eu não consigo tirar
de que tu renasceu
para, em sua decadência
descobrir apenas que
novamente morreu.

terça-feira, 25 de maio de 2010

"...There's things that I have done you never, should ever know. And without you is how I disappear - And live my life alone forever now. Can you hear me cry out to you? Words I thought I'd choke on... Figure out. I'm really not so with you anymore: I'm just a ghost. And now you wanna see how far down I can sink? Let me go! So...you can. well now so you can. I'm so far away from you. Well now so... you can! And without you is how I disappear. And without you is how I disappear. Forever"

"Quem caminha entre os famosos mortos-vivos, afoga os garotos e as garotas dentro de sua cama. E se você pudesse falar comigo, diga-me se é verdade que todas as boas meninas vão para o céu? Bem... só o céu sabe"


"Well it rains and it pours when you're out on your own. If I crash on the couch can I sleep in my clothes? 'Cause I've spent the night dancing - I'm drunk, I suppose - If it looks like I'm laughing I'm really just asking to leave. This alone, you're in time for the show. You're the one that I need - I'm the one that you loathe. You can watch me corrode like a beast in repose, 'cause I love all the poison away with the boys in the band. I've really been on a bender and it shows. So why don't you blow me a kiss before she goes?"


"Me dê um tiro para se lembrar - E você pode tirar toda a dor de mim. Um beijo e eu me rendo. As vidas ávidas são as mais mortais de se guiar. Uma luz para queimar todos os impérios: Tão brilhante que o sol está com vergonha de nascer e estar apaixonado por todos esses vampiros. Então você pode partir como se a sanidade tivesse me abandonado"













[Fê]

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Amizade?


Pessoas assim não se encontra em qualquer esquina.
Claro, por que tem que ser esquina de luxo, benhê.
Não, brincadeira.
É incrível como um ato muda a vida de um individuo completamente, muda sua essência, sua alma... seu ser. É incrível como pessoas tem o dom de fazer isso. Apenas algumas, é claro, e você tem que ser muito sortudo para encontra-las.
Mas eu posso inflar meu peito e dizer com orgulho: "eu as encontrei"

Amizade 
O que é amizade pra você?
É um bom relacionamento? É o grupinho da escola? Afeição, aceitação, se divertir em grupo?
Afeição reciproca entre dois ou mais entes. É mais que amor, ou que uma paixonite.
Afeição reciproca...
Vocês já desfrutaram disso, afeição reciproca? Não? Mas você tem amigos, não é mesmo? Não, errado. vocês não teem amigos, então.
Ultimamente, amizade se tornou algo muito banal...   Você entra numa sala de bate papo hoje e, quando você sai, já está distribuindo beijo a todos e cotando para seus pais ou irmãos que fizeram novas amizades na Internet. Isso é tão fútil e completamente idiota... Duas pessoas mal se conhecem e dizem um pro outro "te amo" e saem espalhando ser melhores amigos.
Aluninhos absolutamente tapados e dispensáveis se juntam em uma panelinha na escola, fazem todos os trabalhos juntos, falam mal das outras panelinhas - e se defendem com unhas e dentes quando o assunto são eles - fazem tudo junto e, ao final de cada ano, derramam lágrimas de crocodilo dizendo que irão sentir saudades dos melhores amigos durante as férias. Sim, choram covardemente, pois sabem que sim, eles se reencontrarão na seguinte série. E, quando chega a formatura, após uma dose excessivamente grande de falsidade, após se abraçarem e prometerem que sempre se verão e nunca vão esquecer um dos outros - afinal, eles são melhores amigos - eles simplesmente vivem suas vidas paralelas e individuais. Os que se denominavam melhores amigos simplesmente somem na poeira, levados pelo tempo.
É isso que é amizade pra você?
Ok, ok, você vai me lembrar que amizade é aquele negócio de afeição reciproca, não é verdade? Calma, eu tenho uma carta na mão:
Partimos de um pressuposto de que duas pessoas estão envolvidas amorosamente. Sim, elas se amam. Os dois se amam (olha ai a afeição reciproca). Vamos supor, e apenas supor, de que esse namorinho de escola termine, e que uma das pessoas não queire mais papo com o/a ex?  Onde fica a afeição reciproca nessa história toda? Você termina, nunca mais olha na cara ou conversa com o seu ou sua ex mesmo ele sendo da sua sala ou escola, onde é obrigado a dividir o mesmo ambiente com ele todos os dias? Isso é afeição reciproca?



Amigos (verdadeiros. Amigos de verdade) são raros de encontrar. Você já encontrou alguém que em momento algum te deixou pra baixo? Alguém que nunca falhou em suas expectativas? Alguém que está do seu lado nos piores momentos de sua vida? Alguém que, quando você acha que não tem mais solução e que sua vida está perdida, pega sua mão e te leva em direção a luz no fim do túnel que você não tinha visto sozinho? Alguém que se importe verdadeiramente com você apesar de qualquer distancia que possa te separar dessa pessoa?
Já encontrou alguém assim? Então, você é uma pessoa de sorte. Acredite, de muita sorte.
Ainda não encontrou? Sempre há tempo de encontrar essas pessoas. Elas estão onde vocês menos esperam, e mais próximas do que se imagina. Basta você ter a capacidade de enxergá-las e de as receber de braços abertos.



Postagem para Thamires - minha eterna Thami -, Leonardo - carinhosamente apelidado Fifi, embora esse costume esteja acabando - e para a Nicole - Nick, nick...
Vocês fazem minha vida ter sentido. Vocês são minha segunda família. Me desculpe se eu não consigo me expressar direito - o que eu sinto por vocês três eu não consigo expressar em palavras. palavras essas que comparadas ao meu sentimento por vocês se tornam vazias. - entretanto... por mais que possa não parecer... saibam que vocês são meus alicerces. A luz no fim do túnel que eu nunca vejo. Estaria perdido, sem vocês, acreditem, pois cada dia que passa, mais eu sinto a falta de vocês e mais eu espero que vocês entrem pelo portão da escola - em vão. Entretanto, nossa amizade perdurou. Eu eu prezo isso como minha vida. Acreditem.
Aff, espero não ter sido meloso. ¬¬
ENFIM! QUE O GLOBO CONTINUE A RODAR, POR QUE A VIDA PASSA. OS AMIGOS FICAM.
Amo vocês, verdadeiramente.

[Fê]

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sonhos

Estrelas do nosso tempo
todas caem, todas morrem
Mesclando gelo e fogo
Nossa doce decadência.
Caminhando entre ruínas
Pisa em pedras e vê flores
Tão inocente... tão impura.
Inocência decaída.

Cavalgue enquanto puder
no cavalo branco do príncipe
que ele nunca foi.
Do beijo sob o helicóptero

à queda d'água do seu sonho
"Da glória para a sarjeta, eu suponho"


Então fugiu
para nunca mais se encontrar
Mas aonde quer que ele vá, ele a vê lá
É tão irônico
pois já faz tanto tempo
desde que ela foi levada
e nunca mais buscada.

Ele nunca foi polido
um cavalheiro, o escolhido
um lunático tocando o violão em uma serenata.
Tão profano
Assas negras
Um anjo.

Esqueça o branco cavalo, a queda d'água,
o príncipe encantado
e todos os seus beijos - Sua glória
Acorde e descubra-se com a cara na calçada.
Tão santa e tão sozinha.
Bem, ela é apenas mais uma andarilha.

[Fernando M. Minighiti][20.03.10][13:30]







Ah, o Evanescence....

segunda-feira, 17 de maio de 2010

De repente, bum!

Sabe... segunda feira, depois do simulado do Enem no sábado e domingo é broxante...
Eu estava na aula de física, quando, de repente, um rompante de criatividade me possuiu,
E, cara, eu tive que começar a escrever.
O professor ditava o exercício, eu escrevia uma frase do exercício e uma numa folha a parte. E assim foi indo até eu concluir o texto abaixo. Ok, foi tenso. Mas deu certo.
Agora, estou no meio da aula de PTC, com o professor, o diretor e o vice diretor LITERALMENTE nas minhas costas e, em vez de postar alguma coisa produtiva no blog do projeto, estou aqui, dividindo com vocês esse meu rompante de criatividade:




"Não tente dizer
o que não pode mais ser dito
Hasteie a bandeira
e limpe o sangue da sua roupa
Então visite todos aqueles corpos no necrotério da sua mente
E reze para que essa noite
eu a deixe em paz
Eu não tenho culpa
Mas é tão bom


Feche os olhos novamente
e beba do cálice da sua mão
Deite, sonhe, se apaixone
pelo que quiser acreditar
Se não fui o suficiente
sei, ninguém será
Não é nada pessoal mas, bem, eu rezaria para abrir meus olhos novamente
Não é minha culpa
mas é tão bom...


Eu podia te ouvir num sussurro
Então por que quando eu gritava
eu permanecia aqui no escuro?
Limpe o sangue derramado uma última vez
E reze para que essa noite eu a deixe em paz
Mais uma vez, e talvez funcione.
Mais uma vez, não vou deixar
Eu não tenho culpa
Mas é tão bom
Do palco para o necrotério
do meu coração"

[Fernando M. Minighiti][17.05.2010][08:30]

sábado, 15 de maio de 2010

"Pobre de vós, que pensas que conheces a verdadeira felicidade, sem saber que está muito longe de conhece-la; e pobre de mim, que vê a felicidade em gestos que não significam nada!..."

Monólogo

Quanto tempo se fazendo de forte, enquanto um pedaço seu é levado a cada dia?..., ele pensa.
Até quando a vida vai me obrigar a aprender lições e quando é que o labirinto vai mostrar sua saída - se é que fará por vontade própria?

Esse torpor, esse vazio, que cresce e escorre pelo chão, inundando poças de solidão; quando findará?

Quando os sorrisos serão verdadeiros? Quando os abraços serão calorosos?

É a vida, eu sei, é a vida que me cobra o que me foi concedido - que me persegue como uma presa suculenta. A vida, ela que dá, ela que tira. Que corre e puxa o tapete da sanidade dos meus pés.

É o destino, sim, talvez: o que não pode ser mais evitado, muito menos remediado pois nunca deu nem nunca dará resultados.

Conformação! Conformação! Conformação!...

E eu sei, eu o sinto todos os dias: Ele, Jano*, das escolhas. O Inicio. O Fim; me assombrando e lembrando-me das catástrofes, das atrocidades. Do sangue derramado. E, a cada uma de suas risadas de cinismo e crueldade das duas faces à mim, penso com afinco: "Sois eu o único culpado? Sois somente eu o estraga-prazeres? Sois eu o único culpado por o Sol não mais me aquecer, ou que a Lua não mais me encante e que o cento não mais acaricie meu rosto?". Então, em meu íntimo, sei que não. Sei que não sou um dos culpados estraga-prazeres, porém, não o único. Então, a presença se vai: Mas não perdura o silencio: Logo, os dois rostos do Deus voltam a me assombrar, e a vida volta para acertar as dividas, vindo e levando de mim o que me é mais caro.

Eu sou meu próprio inimigo. Deixo a dor entrar, deixo o vazio me completar. Abraço a solidão como uma velha amiga. Mas como, me digam, livrar-me de tudo isso, se tudo me procura, e a cada dia tenho mais certeza de que esse é o meu lugar? Digam-me, qual o mal em abraçar a solidão e a tristeza se me foram negados os abraços dos braços que sempre sonhei que me abraçariam? Se nem todos daqueles que se intitulam amigos teem braços estendidos a mim, que mal existe em aceitar os braços do vazio, os únicos que se compadecem de minha situação? Eu sou meu próprio inimigo!

Porque o único pecado mortal é amar como eu amei?
Porque razão aquilo que representa a felicidade do homem, também se transforma na fonte de sua desventura?**
Quando o sol voltará a esbanjar seu brilho?
Quando o vento tocará minha pele?
Quando a lua voltará a ser bela?
Quando o fluido de vazio e torpor estancará?
Por quanto tempo mais fingindo ser forte, enquanto um pedaço de mim é levado todos os dias?, ele pergunta.

[][13.05.10][18:39]



*Referente ao Deus Jano, da mitologia grega. Jano era o Deus das Escolhas e das portas dos destinos. Tinha um único corpo e duas faces na mesma cabeça de modo que ficavam nas laterais.
**Trecho de Os Sofrimentos do Jovem Werther, de J.W. Goethe.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Até quando?

' Eu nasci cercado por cascatas roxas. Eu era fraco, mas não impuro. Morto para o mundo, vivo para a jornada. Uma noite sonhei com uma rosa secando; Um recém-nascido sufocando uma solidão eterna. Sonhei com todo o meu futuro, revivi meu passado... e testemunhei a beleza da fera'
Para onde foram todos os sentimentos? Por que as risadas cessaram? Como posso algum dia sentir novamente? Dada a chance eu voltaria? Por que só sou amado depois que parti? Voltei no tempo para abençoar a criança. Pense em mim o suficiente para ter uma lembrança. Nunca me senti tão sozinho em minha vida. Enquanto bebi um cálice, estava contando meus dias. Há uma gota de veneno neste cálice do homem: Beber nele é seguir o caminho do norte Por que só sou amado depois que parti?
'Para onde foram todos os sentimentos? Porque o pecado mortal é amar como eu amei? Agora impuro, com saudades de meu antigo lar. Prestes a ser livre de atenção, de dores humanas. Minha história é a mais amarga verdade: O tempo nos paga apenas terra e pó e um túmulo escuro e silencioso. Lembre-se, minha criança: Sem inocência a cruz é apenas ferro, esperança é apenas uma ilusão e a alma do oceano não é nada além de um nome...'


"Até quando continuar encenando ser forte, e perder um pedaço seu dia apos dia?", ele pergunta.





























terça-feira, 4 de maio de 2010

Anita

14 de Novembro de 1941 -  Anita sentia o ar salgado da praia deserta. O vento despenteava seus cabelos outrora meticulosamente tratado. Sentia a agua morna do mar noturno nos seus pés nus. Ela também ouvia a arrebentação. O doce som do mar. o mar, cristalino e verde como outrora foram os seus olhos; o mar, que lhe traziam tantas recordações. O mar, que diluía-se no oceano para sempre se perder.

***

07 de Novembro de 1941 - Anita bordava um dos cantos do lençol que faria parte do seu enxoval.
Era uma flor.
O amor, dizia a avó de Anita, é como uma linda rosa. Apesar das dificuldades, é lindo e prazeroso - como os espinhos que arruínam seu caule, sem depravar suas pétalas. - mas perecível, pois, como a rosa, e todas as flores, ele morre.
Anita discordava. O amor não pode ser tão frágil assim.
Acontece que Anita era uma sonhadora. Sempre escutava aquelas rádio-novelas românticas com sua mãe e aprendia la coisas como não sei viver sem ter você, te amarei para a vida inteira ou o amor move montanhas. O amor não poderia ser tão precário assim. Logo, ela bordava em todas as peças de seu enxoval rosas. Rosas que nunca pereceram, rosas que nunca machucariam com seus espinhos. Rosas para sempre, como seu amor.
À companhia de sua mãe, sua única parente viva, que bordava um dos cantos do lençol, Anita bordava as rosas no outro canto. As duas trabalhavam anormalmente quietas. A radio novela fora substituída por noticiários - um dos poucos noticiários controlados naqueles tempos de guerra.
Ela aguardava a lista dos mortos.
Mesmo com a sinistra atmosfera que rondava Anita, ela não conseguia parar de pensar nos acontecimentos dos anos passados:

Ela encontrara o homem de sua vida.
Militar francês, que viajou para a Itália, Omar tinha conquistado seu coração de norte a sul.
Descendente de uma família influente, era sozinho no mundo. Seu pai morrera na Primeira Guerra Mundial. Sua mãe morrera no parto do seu único filho. Desde então, Omar é sozinho. Herdeiro de uma grande fortuna, vivia sozinho de corpo e coração, na sua enorme casa, até conhecer Anita.
Seus olhos verdes como o oceano despertaram em Omar algo que ele pensou que jamais sentiria outra vez:
Amor.
Amor este que se tornou em uma paixão arrebatadora e incontrolável.
Se conheciam a menos de um vez quando, com a bênção da mãe de Anita, iniciaram o noivado, e os longos preparativos para seu casamento.
-Está realmente decidida, minha filha? - perguntara certa vez sua mãe.
-Mais do que em toda minha vida, mamãe. Sinto como se já conhecesse Omar de algum lugar. De outro país, de outra vida. É com ele que devo me casar. Se não com ele, com ninguém: meu coração já foi preenchido.
De tempos em tempos sua mãe a alertava para o que sua avó dizia sobre amor e flores. Anita acreditava que seu amor não era como uma simples flor. Ele não murcharia, não pereceria jamais. Foi então que começou a retratar seu amor nas peças do seu enxoval: rosas em seu esplendor, que nunca iriam morrer no tecido.
Foi em uma dessas tardes que Omar a visitou, contando-lhe a funesta noticia que havia sido convocado para a guerra. A segunda guerra mundial.
-Não quero que esteja fadado ao destino de seu pai! - dissera-lhe uma Anita angustiada.
-Eu voltarei - ele tentava a acalmar.
-Certa vez minha avó disse que o amor é como uma rosa. Belo, mas morre.
-Não diga isto, meu amor - ele a abraçara - nosso amor é como as rosas que você borda: jamais morrerá. Estaria mentindo se dissesse que meu coração não protesta diante da ideia de te deixar, mas sei que voltarei.
-Meu coração é seu e só seu. - dissera Anita, soluçando - não cogite a ideia de não nos vermos mais! Preferiria a morte!
-E você não cogite a ideia da morte. Não vivo sem você, Anita. Acredite, voltarei. E quando sentir saudades, vá até o mar. - ela o olhou nos olhos - vá até o mar verde como seus olhos, e eu estarei contigo. Pois, aonde eu estiver, olharei para o oceano e não verei o mar, mas sim a imensidão de seus olhos verdes, tão misteriosos, profundos ou belo quanto o mar. Seus olhos serão meu mar, Anita.
"Seus olhos serão meu mar, Anita"


Essa frase só saiu da memória de Anita quando ela percebeu que tinha derramado uma lágrima, grossa e pesada, e que deixara cair o instrumento que usava para bordar seu enxoval.
Mais uma lágrima silenciosa caiu e só depois ela conseguiu se dar conta do por que:
O locutor anunciara Omar August Perond como o a ultima vitima que a Segunda Guerra Mundial fizera até o momento.

***

14 de Novembro de 1941 - Fazia uma semana que Oliva, mãe de Anita, não a ouvia a filha falar. Desde o anuncio da morte de Omar ela andava pelos cantos da casa contendo lágrimas. Também não comia ou petiscava algo. Bebia um pouco de água por necessidade. Emagrecera drasticamente nessa ultima semana e não se cuidava mais.
Oliva amanheceu o dia 14 de Novembro como qualquer outro, a exceção de que eram meio dia passados e Anita não saíra ainda do quarto. Compadecendo-se da dor da filha, a mãe não a forçara a nada, e a deixou em paz, sozinha em seu quarto.

***

Seus olhos serão meu mar, Anita, pensava a todo instante Anita trancada em seu quarto.
Agora, não há mais mar para ser visto.
Agora, não há mais mar.

***

À noite do mesmo dia, Oliva bateu a porta do quarto de Anita. Nada. Bateu mais uma vez, mais forte. Nada.
Ouvindo seu desespero, vizinhos apareceram e se amontoaram na casa de Oliva. Após ser contada a historia para as pessoas, um homem chamado Patrício, jovem, porem vigoroso, conseguiu arrombar a porta do quarto.
Primeiro, Oliva entrou, depois, aos poucos, a multidão.
O quarto estava meticulosamente arrumado. Nada de anormal foi notado por Oliva, a não ser de o quarto estar vazio, com a janela escancarada. Anita não estava lá; e por um bilhete sobre a cama, ao lado de algo que olivia não adivinhou a primeira vista.

***

O mar, que lhe trazia tantas recordações, agora tocava suavemente as pernas de Anita.
Agora não há mais o mar , pensava, quanto caminhava ás cegas, sentindo as águas subiram-lhe cada vez mais, ate chegar á sua cintura e depois nos seios.
agora não há mais o mar.
o mar...
Omar...
Omar, o meu amor.
O mar, que vai me levar uma ultima e eterna vez para o seu lado.
Deu mais alguns passos.
Então, uma onda maior que o normal, como se feita pelo próprio Poseidon, derrubou Anita, e ela foi levada cada vez mais adiante e mais fundo.
Por um momento, Anita recusou-se a respirar debaixo d'agua. Seus instintos a impediam.
Foi quando ela pensou ver, mesmo que não pudesse mais, o mar.
Simplesmente o mar.
E, nele, como quem a chamasse, Omar.
O mar...
E ela respirou. Para seu alivio, a dor laciante em seus pulmões durou menos que um segundo.
Então, tudo ficou negro. Depois, alvo como a luz do amanhecer ao mar.

***

Oliva pegou o bilhete deixado por Anita em sua cama, e leu em meio a soluços:

“Certa vez disse-lhe que meu coração já havia sido preenchido, e que se não me casasse com Omar, com ninguém me casaria.
Também disse-lhe certa vez que parecia que já nos conhecia-mos de outro lugar, outra vida.
agora, tenho mais certeza do que nunca!
Perdoe-me
Anita.”

Ao lado do bilhete, Oliva percebeu que haviam dois globos oculares como os de Anita: Verdes cristalinos como o mar – arruinados pelo sangue.
O silencio da multidão era mortal.

***

Até hoje se conta a historia de Anita naquela província da Itália. Com o passar do tempo e das gerações, detalhes se perderam, e não se sabe se Oliva jogou os olhos de Anita no mar, para onde deveriam retornar, afinal, ou se ela os guardou até se deteriorar, ou mesmo se ela os enterrou sob as raízes da árvore preferida de Anita, onde ela sempre gostava de se recostar em sua sombra para ler.
Sabe-se apenas que os dois casarões ainda estão lá, desocupados e intactos, como eram naquela época, em respeito e memória ao sofrimento de Anita e Oliva, e que, ainda hoje, quando às tardezinhas, quando o sol esbanja seu brilho cor de sangue no mar, as pessoas ainda se lembram e sentem que estão sendo vistas pelos doces olhos de Anita.


[Fernando M. Minighiti][04.03.2010]