Felicidade não existe. Sob nenhum aspecto. O que idealizamos é uma farsa - a felicidade eterna, duradoura -, assim como o que nos é vendido. Ela não existe, e ponto. Ela é um raio de luz, uma visão meteória fugaz: em um segundo, acreditamos que ela está lá, assim como vislumbramos um cometa riscando o negro do céu e, também como ele, no segundo seguinte tudo desaparece. E tudo o que possuímos é a dúvida de se realmente o que sentimos foi uma prova do conceito de felicidade; se realmente avistamos um cometa em atrito com a atmosfera ou se foi só a nossa vista cansada de olhar para as estrelas.
Apresento ao júri minhas opiniões completamente arbitrárias sem a mínima cerimônia ou protocolo, isentando-me da tarefa de criar sentido lógico para o leitor ou de unir todos em um maldito senso comum. Faço uso da liberdade que possuo desde o momento em que respiro, único bem do humano. Leiam as palavras deste réu acusado de presenciar passivamente o assassinato de uma concepção.
Desde crianças aprendemos a buscar nossa felicidade. Então o jovem estudante irá se esforçar para tirar ótimas notas e, assim, conseguir entrar em uma universidade conceituada. E isso o torna feliz por alguns semestres, até que ele só se veja feliz novamente quando for capaz de sair da mesma universidade com tantas honras quanto entrou. Ele então se forma e, do mais alto posto de estudante, decai para a mais baixa posição na empresa que entra para exercer a profissão e sim, isso o deixa feliz.
Essa felicidade é minguada e reposta a cada cargo que ele evolui ao longo dos anos na empresa. Até que encontra a mulher (ou o homem) da sua vida e sua felicidade chega ao ápice. Como poderia ser mais feliz? A busca por todos seus anseios fora saciada, e isso o fazia se orgulhar.
E quando ele se vê de posse de tudo o que desejava desde pequenino, ele avança. Casamento, casa, família, crianças, emprego, rotina. E isso o cansa. A sua própria criação o trai, o abandona.
E as perguntas surgem. A vida cobra. Quem impôs o casamento? Quem decretou que ele iria dedicar-se anos a fio, interruptamente, aos estudos de uma profissão que não lhe traz felicidade como a sua idealização trazia? A felicidade do homem, então, passa a resumir-se aos dias de pagamento, ao segundo anterior e posterior - e nada além - do gozo. A companhia perde a graça. O emprego perde a graça. A vida perde a cor. Onde estaria a felicidade? Morta? Teria ela existido?
Este homem fictício, então, procura desanuviar em um bar e entrega-se ao prazer da bebida. E o copo de cerveja lhe traz satisfação, a sensação de desejo saciado, de felicidade novamente. Sensação essa que é menor no segundo copo. E menor no terceiro. E quase inexistente no quarto.
Isso por que o homem é um ser ingrato. Incluo-me neste grupo. Ele é capaz de criar objetos, situações, momentos ao seu bel prazer com a única finalidade de entreter-se, de passar seu tempo e de satisfazerem-se. Com a finalidade de sentir essa tal de felicidade. E, assim como criaram, desfazem-se de tudo quando o sentimento primeiro já não for duradouro o suficiente para os manterem entretidos com a ilusão de alegria. Então, subindo novamente a colina, eles se entediam. Criam. Constroem. Divertem-se e, ao chegar no final do vale, após o frenesi da descida, se desfazem novamente.
É ciclo. É regra. Criação. Prazer. Lixo. Tédio. Criação. Prazer. Lixo. Tédio.
Tudo se resume única e exclusivamente no ato da busca. A busca ao prazer. A busca à felicidade. À satisfação.
Isso, claro, se ela for aceita e legitimada socialmente. O prazer que eu sentiria matando alguns semelhantes meus me é negado. Matar é socialmente errado. Sendo assim, essa felicidade me é privada e ninguém se importa. Assim como ninguém se importa com pedófilos por natureza e que nunca abusaram de nenhuma criança, por exemplo.
Sofremos por buscar essa felicidade inexistente, e sofremos quando ela se mostra efêmera. Por que nós somos assim, insaciáveis, egoístas. Gananciosos.
Talvez o "não ter" traga mais felicidade do que a posse dos sonhos nas palmas nas nossas mãos. Assim não teríamos nada para nos cansar, jogar fora, e buscar novamente. Ao menos é isso que estou me forçando a pensar ao perceber que minha "felicidade" foi mais efêmera que o normal ao desejar fumar e perceber que meu maço estava vazio.
[Fernando M. Minighiti][07.03.2015][04:51]
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