Imagina eu, parado pela ronda
Apalpado, julgado
que vergonha, a família não merece
saber que você fuma maconha.
Se os olhos são puxados
não serve mais do que pra resguardo
Precisa ter pintão, bundão
igual àquele de negão
mas sem ser preto demais.
Se dá pinta, esquece
Você não tem vergonha?
Vai apanhar na rua, igual prostituta
engrossa a voz, caralho, aqui é discreto
e só te como no sigilo, quieto.
Mas entre quatro paredes
você pode se soltar, rebolar, pode miar
pedir gostoso pra apanhar
igual àquele que dá pinta
e sangra na calçada da esquina.
Se é fiel demais
não vai passar do primeiro mês
monogamia não é a vez
Poliamor, trisal, desapego
Nova ordem para novo sossego
Que vem depois da foda
Mas se quiser foder, bebê, não se choca
que amanhã a rola já é nova
E ai se chamar de puta
Só crio as próprias condutas.
Se for pobre, sem chance.
A gente conversa, mas nem se adiante
Bicha poc, dependente, não é atraente.
Como vai pagar meu jantar caro?
Como vai me dar num motel sem carro?
Tenho cara pra metrô,
proletário suado, trabalhador
que se espreme sem ar condicionado
pra ver um pretendente a namorado
que nem sequer é condutor?
E se não morar sozinho?
Bom pra ser bons amigos
Cama de casal é requisito
Casa própria é só o início,
free-pass, assim pode até ser marido
Mas se for o morto,
É outro da nossa causa
que se mata nesse mundo louco
Mais um irmão que partiu, sorriso que sumiu
mas enlouquecido pela ironia
de ver machismo e homofobia
na heteronormatividade escondida
no espelho daquele que deveria ser família
mas que de longe prega a união
a menos que tenha bundão, pintão, culhão.
[Fernando Minighiti][10.10.2018][11h28]