embora soubesse que nunca havia amado.
Em determinações ofegantes, delirava acordado,
com brisas de plumas e amores de concreto,
no auge de seus dezessete mal vividos.
Não sabia nem escrever poema.
Aveludou o coração de escarlate e sóbria púrpura,
meio caminho entre a elegância e o luto,
ainda que não houvesse perdido a ninguém ainda.
Mas era elegante, era jovem,
era ingrato sofista sem saber que seria
dono destituído do nariz e coração.
E quando finalmente perdeu, enterrou seus afetos,
percebeu que jamais aprenderia
olhar-se no espelho e ver como seria
a face do amor longe de perfeito.
E tentou enterrar suas angústias em versos,
mas ainda não sabia como fazia.
E como um deus, num sopro de fúria celestial,
partiu as rubras águas do coração
para descobrir da profundidade o vão.
E lá, num poço sem fim, entre amores meio mortos,
toda a sua existência reunida no vazio
e no eco de uma voz jamais dita.
"Rasgaste o coração e descobriste a imensidão vossa.
Vês a extensão do nada que lhe dá forma?
Estira tuas angústias no oceano de teu pesar,
das infinitas lágrimas que ainda hão de chegar,
e deixa ser o vento a tua fúria contida
que guia barco e ondas de volta a teu cais."
E então calou de amargor o seu pranto,
pois de fato o mar estava ali, revolto.
Flechou com fogo os sonhos que o oceano carregou,
e lhe trouxe de todos aquele mais falho amor.
Pressentiu algo por dentro, mas fingiu que não sentia.
Tomou a pena na mão, mas ainda não sabia fazer poesia.
[Fernando M. Minighiti][20/03/2018][19h25]
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