sábado, 29 de janeiro de 2011

Política da boa vizinhança

Por muito tempo eu deixei de respirar, temendo roubar o ar alheio. Escondia-me de meus pecados, e assumia os do mundo. Fazia-os meus pecados por livre e espontânea vontade. Achava que seria mais fácil assim. Desapropriei-me do meu coração e da minha razão: uma mente vazia, dada a quem quisesse brincar. Viciei-me, como um vagabundo, no meu próprio jogo demoníaco: Minha diversão era ser crucificado diariamente para satisfazer minha plateia. Transformava-me nos motivos de suas vergonhas. Transformava-me na vítima de suas línguas, na razão do seu falar, na circunstancia de sua dissimulação, na finalidade do seu sarcasmo, na piada em seus olhares. Víamos a incomoda verdade, agitando-se como uma cobra preparando o seu bote, nos olhos uns dos outros... mas preferíamos negá-la. E assim, entrávamos e permanecíamos num estado de "paz aparente". Mesmo assim, de paz. Mas a politica da boa vizinhança me cansou. A partir de agora, um mais zero será dois, e eu serei eu, não vocês.

[Fernando M. Minighiti][28.01.11][20:58]


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