quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Início

Toda alegria começa com uma certa tristeza. Ao menos comigo sempre foi assim. Como construir uma mansão, uma casa que seja, sem calejar as mãos com os tijolos? Toda alegria começa com uma certa tristeza. E toda tristeza é partilhada na incerteza.
Não sou um menino. Não sou homem e nem ser humano. A profissão me é uma distração. A música do mar acalma suas próprias tormentas. Chamo-me de poeta, de escritor, mesmo sabendo  que não o sou. Mas é o mais próximo que posso chegar de uma consciência humana. Esse corpo é só uma metaforização de palavras condensadas e nada mais. Comprimidas, esmagadas, pressionadas, desenham as mãos, os pés, os olhos, as pernas, o tronco. Osso e sangue não me completam - às vezes a matéria de que sou feito escorre ou me escapa em fúria. Logo me encho novamente. Não, não me encho. Recomponho-me. A aparência é essencial. Porque toda alegria começa com uma certa tristeza.

[Fernando M. Minighiti][20/08/2015][02:57]



Nenhum comentário:

Postar um comentário