segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Antena (Uma tentativa de crônica)

Conheci alguém. Claro, esse alguém não me conhece. Entretanto, nos vemos todas as sextas feiras. Conheço bem seus olhos miúdos, sua postura despojada. A sua (quase) ausência de queixo. É pessoa reservada, taciturna, embora sorri quando conversa com pessoas que conhece. Conheço seus trejeitos, suas manias. É pessoa detentora de um lindo cabelo, mesmo que não muito valorizado, mas ainda sim lindo. Mas voltemos aos fatos captados por mim - quase uma antena de sinais que nunca funcionarão na prática: Da pessoa conheço o pai, conheço a mãe: Embora intimidadora, é belíssima como a cria sua. Figura inspiradora, inspira respeito. Poderia ser um diálogo de novela quando conversamos - digo, se um dia viermos a compartilhar de uma mesma conversa. Dessa pessoa, conheço até a irmã mais nova e a avó. Veja bem, sei até que essa pessoa se chama F*******. Ultimamente, descobri como é sua voz. E ela é linda como tudo o mais que possui. Essa pessoa, entretanto, não sabe que eu existo. Isso não me aflige tanto, é verdade, mas é inquietante o fato de eu me interessar tanto por uma  pessoa e essa mesma não saber nem mesmo meu nome.
Mas, a não ser que muito me engano, acabo de prender-me em minha própria armadilha - a inerte esperança, a admiração oculta, o melodrama encarnado. Pois só com mais dor sou capaz de ultrapassar a dor.
Acelero a escrita. Outra sexta feira está surgindo.

[Fernando M. Minighiti][10.10.2011][22:13]


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