Quem você pensa que é? Você acha que você é a pessoa mais importante no mundo, ou a mais original? A cereja solitária que decora o glacê do bolo? Você acha que está sentada em um trono, imponente, e que todos os seus súditos são ratos que lhe devem reverência e adoração? Desculpe. Eu realmente lamento, mas você e nem ninguém chega perto de nada disso. Pelo menos ninguém deveria. Sentindo-se vazia ao descobrir isso? Não se preocupe, não. Eu posso lhe dizer quem você é. Você é uma pessoa arrogante e egoísta. De fato, acha que seus "amigos" devem-lhe devoções eternas, os que não o são, não passam de ratos de esgoto. Ao mesmo tempo, pode ser muito amável. Você é uma pessoa doente, também. É alguém que, de tão tímida, criou um casulo impenetrável ao qual só você tem acesso. E não há nada e nem ninguém que a faça sair daí. É alguém com um nível tão elevado de complexidade que nem aos seus próprios olhos você faz sentido. Mas consegue ser carente. Não consegue manter muitas amizades verdadeiras ao longo da vida e, quando consegue uma, a quer só para si, 24 horas por dia. Por isso mesmo, é possessiva. E, para manter essas pessoas perto, usa de todos os artifícios: chantagem emocional, drogas lícitas (e ilícitas também), álcool, música, livros, festas, até mesmo brigas. Esforça-se, e até se prejudica para estar, mesmo que apenas no seu imaginário, num patamar descolado, alternativo. E o critério para separar amigos de ratos é justamente quem segue ou não esses parâmetros, muitas vezes absurdos. Por outro lado, é uma pessoa inteligente, com um potencial tão grande guardado dentro de si. Um desperdício, claro, pois está tão bem guardado que é inutilizado. Guarda muito orgulho dentro de si. Quando acha que perdeu alguém, por mais equivocada que possa estar, ainda sim usa de sua arma secreta - chantagem emocional -, como uma cigana hipnotiza um homem, e nada a faz voltar atrás. É aí que todos devem correr até você. Caso contrário, serão ratos, e apenas ratos - mesmo que já tenham sido amigos fiéis por longos anos. É alguém que não sabe quão agradável é quando não se esforça em ser legal. É alguém que se odeia. E, por fim, é alguém que nunca aceita um erro. Sua vontade é soberana e seus princípios são sempre corretos. O que você acha é sempre verdade. O que, claro, é um grande engano da sua parte, e que posso provar: sabe aquele isqueiro que você jura que perdeu? Então. Na verdade, eu o roubei.
[Fernando M. Minighiti][29.01.2014][23:24]