quarta-feira, 25 de maio de 2016

Amor

Ele caminhava trôpego,
de amor e bebida embriagado.
E sua visão era difusa
como a de bebê recém-nascido

Esgueirava-se pelos cantos da vida,
pois mal não haveria de fazer.
E sentia na carne o mal estar
de tanto sentir e de tanto doar.

Como bêbado que exagera e,
de quatro, como animal, põe-se a clamar
por mais uma dose do único amor que haveria de vingar,
o líquido, daqueles de mesa de bar.

E chora por querer mais
daquilo que já é fonte de asco.
E bota para dentro mais uma dose
do que o faz vivo e do que o faz morto.

E vê em seus fluídos,
brutalmente jorrados do próprio estômago,
o filhote morto do que alimentou,
ainda nem totalmente digerido.

Acaricia suas dores e cala seu pranto.
Cuida do amor derramado,
como só o bêbado sabe fazer
na desgraça do próprio vômito.

[Fernando M. Minighiti][25/05/2016][03:13]